Análise: Intervenção é "show pirotécnico" sem benefícios à segurança do Rio

O presidente Michel Temer (MDB) decidiu no início da madrugada desta sexta-feira (16) decretar intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Com isso, o Exército ará a ter responsabilidade sobre as polícias, os bombeiros e a área de inteligência do Estado. Especialistas entrevistados pelo UOL, no entanto, avaliam que a medida é midiática e que não deve melhorar a segurança do Estado.
Na prática, o Exército vai substituir o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), na área de segurança até o dia 31 de dezembro. A decisão do governo federal contou com o aval de Pezão.
A socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, e João Trajano Sento-Sé, pesquisador do laboratório da análise da violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), analisam da mesma maneira a decisão do governo federal.
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Enquanto a socióloga cita que a medida é um "show pirotécnico" do governo federal, o pesquisador analisa que a ação demonstra que o Estado está na "UTI" e que não deve ser o Exército o salvador da pátria.
Julita relembra que as Forças Armadas já se fizeram presentes no Rio, a pedido do governo estadual, em outras oportunidades. E que isso não melhorou a segurança estadual.
"A [favela da] Maré ficou ocupada por 16 meses pelas Forças Armadas, em 2014. É um custo de bilhões de reais. Você vai na Maré hoje e o varejo do tráfico está fortemente armado. E a Maré é muito singular, porque há diversos traficantes diferentes, em diferentes favelas, inclusive com milícias", disse.
Para a socióloga, ao invés de "meses com presença física, com esse show pirotécnico", que, segundo ela, funcionou para tranquilizar os ânimos apenas por alguns dias, o investimento da segurança deveria ser em inteligência das polícias estaduais.
"Logo a população percebeu que aquela ostensividade não tinha um planejamento maior por trás. Era apenas ocupação ostensiva para transmitir uma percepção de segurança. E a população vai perceber isso novamente. Não adianta presença. Tem de ter inteligência", afirma a socióloga.