Casamento luciferiano: no que acreditam os fiéis do misterioso culto?
Do UOL, em São Paulo
29/05/2025 05h30
Um casamento 'luciferiano' marcado por símbolos ocultos, a cor vermelha e rituais causou alvoroço nas redes sociais. Realizado em Itatiaia (RJ), o evento chamou atenção por ser o primeiro casamento luciferiano oficializado no Brasil, conduzido por líderes da Primeira Igreja Luciferiana.
A cerimônia teve noivo a cavalo, noiva em liteira vermelha, oferendas à deusa Astaroth e promessas espirituais diante de um altar ornamentado. Mas, afinal, quem são os luciferianos? Em que acreditam? E por que tanto mistério e controvérsia cercam esse culto?
Significado e demonização
Luciferianismo é espiritualidade, não adoração ao mal. Os praticantes afirmam que não seguem o satanismo tradicional, e sim uma filosofia espiritual que busca sabedoria, equilíbrio e autoconhecimento.
A palavra "Lúcifer" é carregada de estigmas. Para os seguidores, ele representa luz — e não o diabo —, mas a imagem foi historicamente associada ao mal pela tradição cristã. Os fiéis acreditam em Deus e cultuam Lúcifer.
Santuários e estátuas geram polêmica. Em Gravataí, uma ordem religiosa construiu um santuário com uma estátua de cinco metros dedicada a Lúcifer, o que gerou críticas e ameaças. Seus líderes reforçam que o espaço foi construído com recursos próprios e que a figura representa o "portador da luz e do autoconhecimento".
Culto busca quebrar paradigmas religiosos. A Nova Ordem de Lúcifer na Terra, criadora do santuário, afirma atuar com base em evolução pessoal, respeito e honra — e rejeita qualquer prática violenta ou discriminatória.
'Lúcifer não é o diabo'
Lúcifer é símbolo de luz e liberdade. Segundo Mestre Jonan, que celebrou o casamento no RJ, "Lúcifer representa o caminho para o autoconhecimento e a dignidade espiritual — não uma entidade maligna".
O casamento seguiu uma ritualística própria. O evento teve dança, flores, juramentos e até entrega simbólica de uma árvore, para representar o crescimento da união. A cerimônia foi feita com o "aval da espiritualidade", segundo Jonan.
O culto é guiado por princípios morais. Os noivos se comprometeram com valores como compaixão, equilíbrio e fidelidade. Eles também am a seguir os Dez Mandamentos da Igreja Luciferiana — cujo conteúdo é reservado aos membros.
Lúcifer não é desculpa, é responsabilidade. Para os praticantes, acreditar no "diabo" como culpado é uma forma de evitar a autorresponsabilidade. Eles afirmam: "Nós [os humanos] é que mentimos, matamos, roubamos. Não Lúcifer", diz Jonan.
O culto é estruturado, não improvisado. Grupos como a Nova Ordem de Lúcife, no Rio Grande do Sul, possuem organização, rituais e até hierarquia espiritual, com títulos como "Mestre" e "Tata" e reúnem cerca de 100 membros.
Quem é Lúcifer
Na tradição romana, Lúcifer (ou "Luciferus") era associado à estrela da manhã, Vênus. Ele era visto como um deus da luz que anunciava o amanhecer. Como na tradição grega, Lúcifer não tinha nenhuma ligação com figuras malignas ou com o conceito de anjos caídos; ele era simplesmente um símbolo de luz e claridade.
Segundo a tradição cristã, Lúcifer é frequentemente identificado como um anjo caído que se rebelou contra Deus. O nome "Lúcifer" tem origem no latim e significa "portador da luz". Originalmente, segundo consta da Bíblia, Lúcifer era considerado um anjo de alta hierarquia, dotado de grande beleza e poder.
Em Isaías, Lúcifer é descrito como um ser que tentou ascender ao nível de Deus, mas foi expulso do céu e lançado à Terra após iniciar uma rebelião. Essa queda é simbolizada como a perda de sua posição elevada e sua transformação de "portador da luz" em um símbolo de trevas e maldade.
Para Anton LaVey, fundador da Igreja de Satanás e autor da Bíblia Satânica, Lúcifer seria um dos quatro príncipes herdeiros do inferno, particularmente o do Oriente. Ele é chamado pelos satanistas de "senhor do ar", "portador da luz", "estrela da manhã", e simboliza o intelectualismo e a iluminação.
*Com informações de matérias publicadas em 27/05/2025 e 12/08/2024