Professor vê aumento de tentativas de deslegitimar urnas eletrônicas

Enquanto nos Estados Unidos o voto em papel é usado como justificativa para contestar os resultados eleitorais, no Brasil o problema seria exatamente o oposto: as urnas eletrônicas seriam fraudáveis. O professor de direito da FGV Thiago Amparo avalia que existe, no país, um aumento nas tentativas de deslegitimar urnas eletrônicas

"É importante a gente acompanhar para ver como isso vai ser nas próximas eleições. Teve diversos casos de fake news em 2018. Teve discussões para evitar que isso seja espalhado constantemente, seja com Gabinete do Ódio, seja por apoio de empresários e toda essa discussão. O TSE e Justiça Eleitoral têm se atentado a isso, mas é muito lento para investigar", avalia Amparo, em participação na live do UOL sobre as eleições.

O pesquisador tem visto cada vez mais dessas tentativas. "Hoje mesmo teve discussão no Twitter e outras redes sobre eventuais falhas nas urnas eletrônicas e volta do voto impresso. Desinformação, em massa, pode minar a credibilidade do sistema democrático. A gente tem visto uma procura maior para tentar minar urnas eletrônicas e tem visto Justiça atenta, mas engatinhando nas investigações das estruturas, para além dos usuários", disse.

"Em eleições, ter previsibilidade é a coisa mais importante. Então a gente precisa ter confiança nas instituições e para isso é necessário ter previsibilidade muito clara. E o que a gente viu nos EUA dá margem para esse tipo de teoria da conspiração quando não há previsibilidade técnica sobre os resultados. Então cai sobre os ombros do ministro Barroso que ele seja mais claro ao que de fato acontece", continuou Amparo.

Colunista do UOL, Leonardo Sakamoto também mostra preocupação: "A máquina de guerra bolsonarista está dizendo que o atraso do TSE é a prova que essas eleições são fraudadas. United States feelings. É o pessoal puxando discurso do Trump. Blogueiro bolsonarista postou 'Urgente, invasão hacker revela fraude nas urnas', entre outras postagens. Aproveitando problemas no aplicativo e atraso. Apesar de não terem relação direta com resultado. Não há prova com relação a essas declarações. Mas a máquina de guerra já está funcionando."

Sakamoto relaciona as notícias falsas com o campo bolsonarista. "Começaram a circular postagens de nomes conhecidos do bolsonarismo, alguns que foram arrolados no inquérito do STF contra os ataques ao Congresso e ao STF, o inquérito das fake news, não vou citar nomes para não incentivar, mas blogueiros colocando em xeque a idoneidade da votação. Estava olhando os textos, colocando em xeque que a demora na totalização dos votos é indício, corrente na internet circulando a respeito disso, deputados bolsonaristas caçoando do TSE por causa da contagem dos votos", ele cita.

"É uma situação complicada, até porque como a gente viu o presidente Bolsonaro não foi um bom cabo eleitoral nas capitais. Tem candidatos dele no segundo turno, mas ainda assim foi bastante humilhante. A pessoa que ele apoiou em São Paulo, principal colégio eleitoral do país, vai terminar numa posição muito abaixo. Isso tudo a gente viu nas eleições americanas, com o presidente Donald Trump alegando fraudes nas eleições. São situações diferentes, mas o método de desqualificar o sistema eleitoral é o mesmo."