Efeito estufa: Gases devem ser zerados até 2030, não em 2050, revela estudo

Cientistas que compõem o CCAG (Conselho Consultivo de Crise Climática) advertiram em relatório divulgado nesta quarta-feira (25) que chegar a zero emissões de gases de efeito estufa até 2050 agora é "tarde demais". Segundo o documento, não será possível atingir as metas firmadas por diversos países no Acordo de Paris, em 2015, que pretendiam limitar o aquecimento global a 1,5 ºC até o final do século. Para uma mudança nesse cenário, metas precisam ser adiantadas para 2030 e não apenas isso.
"Quando você olha a trajetória das emissões, de aumento da temperatura, isso não é suficiente. Precisamos atingir antes essa neutralidade de carbono e, ao mesmo tempo, trabalhar no sequestro de carbono. Não basta compensar cada tonelada emitida, que seria a neutralidade, você tem que aumentar o sequestro nessa fase que a gente chama de 'emissões negativas'", explica Mercedes Bustamante, professora da UnB (Universidade de Brasília) e integrante do CCAG, em entrevista ao UOL.
Baseados em descobertas publicadas recentemente pelo Sexto Relatório do IPCC ( Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), os 15 cientistas de dez países afirmam que as atuais metas de emissões globais dos países são inadequadas e que estratégias de emissões negativas precisam ser feitas para minimizar os impactos do aumento da temperatura global.
O relatório sugere que mesmo que os países atinjam zero emissões de gases de efeito estufa, isso não vai fazer impacto para os mesmos gases que já estão na atmosfera, chegando a concentrações de gás carbônico (CO²) de até 540 partes por milhão. O que significa que resta pouco ou nenhum espaço para reverter esse cenário, com "apenas 50% de chance de manter a linha de 1,5 ºC".
"Se a gente já está percebendo impactos na mudança do clima agora que a gente tem um incremento de 1,1 ºC, teremos mais impactos chegando em 1,5 ºC", diz Mercedes. Com pouco mais de dois meses para a COP 26, Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU em Glasgow, na Escócia, o grupo pede mudanças efetivas dos líderes globais dando ênfase para as metas de emissões negativas, sendo a única forma viável de garantir mesmos níveis de gases do efeito estufa iguais ao período pré-industrial, pelo Acordo de Paris.
Se isso não acontecer, é possível que as temperaturas globais ultraem os 1,5 ºC já em 2030, com consequências perigosas das mudanças climáticas. "Alcançar emissões zero até 2050 não é mais suficiente para garantir um futuro seguro para a humanidade; devemos revisar as metas globais e nos comprometermos com estratégias negativas de emissão de gases de efeito estufa urgentemente", comenta David King, ex-conselheiro de ciência do Reino Unido que encabeça o CCAG, em entrevista à Agência Bori.
Papel do Brasil
Mercedes diz que o relatório possui uma forte mensagem para a urgente necessidade de redução de CO² da atmosfera. Países que possuem grandes áreas de florestas e ecossistemas naturais, como o Brasil, desempenham importante papel na retirada de carbono da atmosfera e podem contribuir mais ao restaurar áreas já degradadas.
"Países que têm essa grande extensão de sistemas naturais, sobretudo nessa região tropical, têm uma contribuição importante para dar. O Brasil pode contribuir primeiro reduzindo as emissões do desmatamento e, ao mesmo tempo, favorecendo a conservação e a regeneração das florestas para elas continuarem sequestrando carbono", afirma a professora da UnB.
Estudos já indicam que algumas partes da Amazônia impactadas pelo desmatamento, queimadas e mudança global, deixaram de retirar e aram a ser fontes de carbono para a atmosfera, cenário que o mundo não precisa. Até mesmo a agricultura, que tanto ameaça o bioma com seu avanço, possui alternativas de sistemas agropastoris para a redução das emissões e aumento do sequestro de CO² e isso pode ser aplicado.
"O relatório é um recado importante para os tomadores de decisão, de que [há] pouco espaço de manobra. A gente tem duas contas que não vão fechar: as emissões aumentando e o tempo reduzindo. Então é importante que os tomadores de decisão se preparem para que essa reunião em Glasgow seja um ponto de virada na ação política de combate às mudanças no clima", finaliza.
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