Celso Amorim: Nunca vi Geisel chamar o Exército de 'minhas Forças Armadas'
O ex-ministro da defesa, Celso Amorim, disse hoje, em entrevista ao UOL News, que o Brasil voltou a ser um governo militar e que a relação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com as forças armadas nunca foi vista nem nos governos militares. O comentário foi ao analisar o desfile de tanques, recebido hoje por Bolsonaro no Palácio do Planalto.
"O governo militar tinha certa impessoalidade, com todos os defeitos, torturava, matava. Mas eu nunca vi o Geisel, nem o Médici chamarem o exército de 'meu exército', 'minhas forças armadas'. Nunca houve essa identificação do estado com a figura do governante. Isso é muito grave para as instituições. Nem o Getúlio, na época da ditadura, falava dessa maneira", avaliou.
O ex-ministro também criticou a presença dos três comandantes das forças armadas na suposta visita ao presidente, durante o desfile no Palácio do Planalto e avaliou o cenário como um desgaste da imagem delas perante a sociedade.
"Eu sei que você não pode ir contra a ordem do presidente, mas as pessoas podem pedir demissão. O presidente Bolsonaro tem desgastado progressivamente essa imagem e elas (forças armadas) vão ficando cada vez mais absorvidas pelo governo. Isso é uma ameaça. Agora se vai se concretizar...Ameaça é isso, o simples fato de existir, já é um fato".
Celso Amorim também não acredita em coincidência, com relação à justificativa de que os militares estariam indo levar um convite ao presidente referente a um evento anual. "Essa mesma operação em Formosa acontece todo ano. Se fosse para entregar um convite ao presidente, era só chegar lá no terceiro andar e entregar ou marca uma audiência".
Amorim lembra que, nem após o final da ditadura, assim como nos outros governos democráticos que se seguiriam, o Brasil tinha a imagem tão ruim. "O Brasil era um país estimado. O Brasil está sendo enxovalhado. A imagem do Brasil não inspira respeito. Ninguém se aproxima do Brasil".
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