Em atrito por IOF, Lula diz que Hugo Motta será 'bem tratado pela esquerda'
Do UOL, em Brasília e em São Paulo
01/06/2025 13h33Atualizada em 01/06/2025 17h35
Enfrentando divergências com a Câmara por causa do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), o presidente Lula fez um afago hoje ao presidente da casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). O petista afirmou que o deputado será "bem tratado" pelos partidos de esquerda.
O que aconteceu
Lula discursou no Congresso Nacional do PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin. O evento termina hoje com a eleição do prefeito de Recife, João Campos, como novo presidente nacional da sigla. O petista chegou ao congresso acompanhado de João, da primeira-dama, Janja da Silva, e do presidente da Câmara.
Petista pregou mais diálogo com o Congresso em meio a um embate com Câmara e Senado sobre o aumento do IOF. A bancada de oposição na Câmara protocolou uma série de projetos de decretos legislativos para derrubar a medida, anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Nos cálculos da equipe econômica, o aumento do imposto pode ampliar a arrecadação federal em até R$ 20 bilhões e seria essencial para que o governo atinja a meta fiscal deste ano.
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O governo tem que aprender que, quando quiser ter uma decisão que seja unânime entre todos os partidos, o correto não é a gente tomar a decisão e depois comunicar. É a gente chamar as pessoas para tomar a decisão junto com a gente.
Lula, em discurso durante congresso do PSB
Lula fez um afago a Motta, um dos maiores críticos da medida. Chamou a eleição do deputado para chefiar a casa de "demonstração" de que o país começa a viver "coisas boas" depois de "tantas coisas ruins" e afirmou que os partidos de esquerda irão tratá-lo como "jamais alguém imaginou que os partidos de esquerda pudessem tratar um presidente da Câmara de outro partido politico".
Petista disse que "ninguém tem obrigação" de aprovar pautas do governo, caso não concorde. Mas ponderou que é papel do Executivo convencer o Legislativo da importância dessas medidas.
Motta afirmou hoje que o país precisa de pautas "muito mais produtivas". Em discurso no evento, antes de Lula, o presidente da Câmara declarou que o Brasil "não tem mais tempo a perder", além de defender a pacificação do país e foco nos "problemas reais".
Motta deu 10 dias para que o governo apresente alternativa ao aumento do IOF. Em reunião com Haddad e declarações públicas, o deputado afirmou que existe "insatisfação geral dos deputados com a proposta de aumento de imposto" e advertiu que o clima na casa é para derrubada do decreto de alta do IOF.
Por enquanto, governo resiste em revogar medida. Haddad afirmou ter explicado a Motta e ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) que, se o aumento do IOF não for levado adiante, serão necessários mais cortes no Orçamento da União, o que poderia inviabilizar o funcionamento da máquina pública. Segundo o ministro, não há alternativa para cumprir as obrigações orçamentárias sem os R$ 18,5 bilhões que o governo estima arrecadar com o aumento.
Congresso do PSB
PSB realizou congresso em Brasília. O partido, que é um dos principais aliados do PT no governo federal, escolheu o prefeito de 31 anos para presidir a sigla, em meio às dificuldades de renovação política da esquerda.
Antes de iniciar o discurso, Motta ouviu da plateia gritos de "sem anistia". As manifestações fazem referência à articulação bolsonarista para aprovar um projeto de lei que perdoe os crimes do 8 de janeiro. Na sua fala, Motta enfatizou que João representa a "renovação" da política. "A sua chegada à presidência do PSB traz pra nós não só a renovação da esperança da boa política, mas também a história que você carrega sobre os seus ombros e o legado que você precisa defender, desde o seu bisavô Miguel Arraes, ando pelo seu pai, o saudoso Eduardo Campos", afirmou.
João Campos pregou a construção de pontes para resolver problemas do Brasil e demonstrou apoio à reeleição de Lula em 2026. Disse que, junto com o petista, vai construir a "consolidação democrática do país". "Não existe justiça social sem democracia e é papel de quem compreende isso ajudar a fazer o governo dar certo e ajudar a vencer uma eleição importante e estratégica como será de 2026", salientou ele, que ainda conclamou o PSB a olhar "para além dos muros do partido".