Tartaruga mais velha do mundo completa 193 anos: por que elas vivem tanto?

Jonathan, uma tartaruga gigante da espécie Aldabra (Aldabrachelys gigantea), completa 193 anos em 2025. Ele vive na ilha britânica de Santa Helena e foi reconhecido pelo Guinness World Records como o animal terrestre mais velho do mundo. Estima-se que tenha nascido em 1832.

Por que tartarugas vivem tanto?

Há uma explicação evolutiva e uma biológica para a longevidade das tartarugas. Do lado evolutivo, especialistas afirmam que a tartaruga precisa viver muito tempo para conseguir transmitir seus genes.

A explicação evolutiva é relativamente simples. Animais como cobras e guaxinins adoram comer ovos de tartaruga. Para conseguirem transmitir seus genes, as tartarugas precisam viver muito tempo e se reproduzir com frequência, às vezes, várias vezes por ano, e botar muitos ovos. É meio impressionante que o mundo não esteja tomado por tartarugas, considerando a quantidade de filhotes que elas produzem Lori Neuman-Lee, professora da Universidade Estadual do Arkansas, em entrevista ao Live Science

O mecanismo biológico das tartarugas é mais complexo. Uma das explicações a por estruturas chamadas telômeros, partes do DNA que protegem os cromossomos durante a divisão celular. Em muitos animais, esses telômeros se desgastam com o tempo, o que causa erros genéticos e favorece o surgimento de doenças como o câncer.

Nas tartarugas, esse desgaste ocorre de forma mais lenta, o que ajuda a preservar a integridade celular por muito mais tempo. "As tartarugas apresentam uma taxa de encurtamento dos telômeros menor do que animais com vida mais curta. Isso significa que elas são mais resistentes a certos tipos de danos causados por erros na replicação do DNA", explicou Neuman-Lee.

A forma como o organismo das tartarugas lida com células danificadas também é diferenciada. Cientistas descobriram que espécies como as tartarugas gigantes são capazes de eliminar rapidamente essas células por meio da apoptose, a chamada "morte celular programada". Isso pode evitar o aparecimento de câncer.

Nos quelônios, a apoptose é mais eficiente e menos sujeita a erros. Tem um processo que elimina do corpo as células que vão morrendo e mantém um conjunto ativo de células vivas que se regeneram Miguel Trefaut Rodrigues, professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, ao Jornal da USP.

Resistência genética

Estudo sugere que as tartarugas mantêm enzimas essenciais para a replicação do DNA funcionando corretamente. Isso significa menos erros genéticos e mais estabilidade ao longo da vida. "Se isso significa que essas tartarugas são totalmente resistentes a problemas na replicação do DNA ainda é algo a ser determinado. Mas é uma possível explicação para a incrível longevidade desses animais", pondera Neuman-Lee.

Tartarugas também têm uma grande quantidade de proteínas chamadas perforina e granzima. Elas são produzidas pelas células matadoras naturais do sistema imune inato.

Qual é a vantagem disso? Você vai ter um sistema imune inato muito bom. São exatamente essas células que são responsáveis por eliminar células tumorais. Esses dois aspectos fazem com que esses animais sejam menos suscetíveis ao câncer e às doenças infecciosas, comuns em indivíduos mais velhos José Ribamar Ferreira-Júnior, professor do curso de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, ao Jornal da USP

Os 193 anos de vida de Jonathan vão além dos fatores biológicos. É válido destacar também que ele vive em cativeiro e longe de predadores, tem uma alimentação balanceada e é assistido de perto por veterinários.