Sem El Niño ou La Niña, clima deste inverno fica 'imprevisível' no Brasil
Giovanna Arruda
Colaboração para o UOL
01/06/2025 05h30
A temperatura do Oceano Pacífico Equatorial pode influenciar o clima global, inclusive no Brasil. Segundo a NOAA (istração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA), entre junho e agosto, não devem ocorrer fenômenos de aquecimento ou resfriamento anormais, mantendo a região em neutralidade durante o inverno, o que faz com que o clima fique mais difícil de prever.
Para começar: o que é El Niño e La Niña
El Niño e La Niña são fases de um padrão climático no Pacífico tropical. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), as condições deste sistema, chamado de El Niño - Oscilação Sul (ENSO), modificam os padrões na circulação atmosférica global, alterando, principalmente, a distribuição das chuvas e das temperaturas no planeta. Veja abaixo a definição dos fenômenos do ENSO.
- El Niño: aquecimento da superfície oceânica --a temperatura da superfície do mar (TSM) fica 0,5ºC acima da média por cinco meses consecutivos;
- La Niña: resfriamento da superfície oceânica --a temperatura da superfície do mar (TSM) fica 0,5ºC abaixo da média por cinco meses consecutivos;
- Neutralidade: fase em que a TSM está próxima à média.
Ao UOL, o Inmet explicou que estes fenômenos impactam o clima no Brasil. Quando o El Niño está ativo, por exemplo, são observadas secas prolongadas no Norte e no Nordeste, ao mesmo tempo em que chuvas intensas atingem outras regiões do país, como as que aconteceram no Sul em 2024.
Já sob os efeitos do La Niña, as chuvas são mais intensas na Amazônia. "As cheias dos rios ultraam as cotas dos níveis normais, causando sérios problemas aos ribeirinhos. No Sul, essas anomalias provocam longos períodos secos, comprometendo drasticamente as safras agrícolas", diz o Inmet.
O que significa Pacífico em condições neutras
Ao longo das últimas semanas, os especialistas observaram a neutralidade nas águas da região. Isso significa que as temperaturas nas águas do Pacífico se mantiveram dentro da faixa considerada normal, nem altamente aquecida, nem altamente resfriada. Segundo os registros da NOAA, o mês de abril teve temperaturas apenas 0,16ºC mais frias do que a média.
Segundo a NOAA, as águas deste oceano devem permanecer neutras pelos próximos meses. Durante o inverno no hemisfério sul, a neutralidade tem 74% de chances de permanecer ativa. Já entre agosto e outubro —quando o hemisfério sul já estará em transição para a primavera —, os valores previstos são superiores a 50%.
O que essa neutralidade provoca
Padrões climáticos não seguem direção clara, tornando mais difícil prever como serão as chuvas, as temperaturas e os eventos extremos. Quando o El Niño ou o La Niña estão ativos, eles alteram a circulação atmosférica e impulsionam as correntes de ventos de maneiras específicas. Na ausência destes fenômenos, ou seja, em condições neutras, a atuação do clima e do tempo fica mais imprevisível.
Na fase neutra, as temperaturas tendem a seguir a variabilidade mais local e sazonal. "Fenômenos regionais e de curta duração, como frentes frias, bloqueios atmosféricos e ZCAS [Zona de Convergência do Atlântico Sul] podem provocar períodos de estiagem ou chuvas mal distribuídas, decorrentes de instabilidades na atmosfera", explica o Inmet.
Mesmo com a neutralidade, o clima no Brasil pode ter episódios pontuais, conforme o Inmet. "Existem fatores regionais que influenciam na dinâmica da atmosfera nos níveis médios e altos", explica o instituto. Essas faixas de atmosfera transportam massas de ar que, dependendo da TSM, pode provocar frio intenso. A previsão não descarta, por exemplo, a repetição da neve no sul do país.
Eventos extremos estão mais associados à atuação de sistemas meteorológicos de escala mais regional. Por exemplo, a movimentação de massas de ar polar pode causar quedas bruscas de temperatura, ou a formação de linhas de instabilidade, resultando em chuvas intensas e tempestades [em uma região específica do país]. Inmet
O aquecimento global está alterando a frequência, a intensidade e a duração das fases do ENSO e dos eventos extremos. "Mesmo sob condições de neutralidade do ENSO, nos últimos 30 anos foram registradas anomalias positivas na temperatura do ar, em que os valores superaram as médias históricas, especialmente nas áreas urbanas e no centro-norte do país", diz o Inmet.
Episódios de El Niño e La Niña tendem a se tornar mais intensos e imprevisíveis, ampliando os impactos nas regiões tropicais e subtropicais. "Mesmo sob condições de neutralidade, mas com a temperatura média global aumentando, há uma tendência que os eventos extremos se tornem mais frequentes e mais intensos, como ondas de calor, secas, enchentes, tempestades severas", alerta o instituto.